quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018
Indícios do fim de um Verão
Assim como o clima de um verão em São Paulo nossa história começou outrora frio, outrora quente. Quando coloquei meus olhos em ti pela primeira vez te detestei, para mim você era apenas um invasor que estava tentando ocupar o meu lugar.
Os dias foram passando, se tornando semanas e eu fui percebendo que minha primeira impressão de você não poderia estar mais errada; você era culto, interessado, sincero, gentil e carinho. Tudo isso envolto em um mistério que por mais que eu tentasse, não conseguia desvendar. Com cautela e muito desejo fomos cedendo ao charme um do outro. Depois do nosso primeiro beijo, eu não queria mais tirar minhas mãos de você, tudo aconteceu tão naturalmente, tão inocentemente; estávamos em um campo aberto, tudo que havia ao nosso redor era a natureza, em sua mais linda e pura forma, nos deitamos na grama um ao lado do outro, e eu não pude deixar de notar a perfeição daquele momento, e te disse o quanto eu amava isso, o modo como tudo parecia se encaixar perfeitamente, como se o mundo pertencesse somente a nós dois. Quando seus lábios tocaram os meus eu senti o infinito, e foi naquele momento que eu soube que te amava.
Lembro-me como tudo se tornou mais difícil depois daquele beijo, eu jamais me arrependi, mas confesso que ele tornou a distância entre nós quase impossível e insuportável. Eu queria saber onde você estava, o que estava fazendo e porque não estava comigo. Sua presença me acalentava, mesmo que eu não pudesse tê-lo ao meu lado, e o fato de você ter tentado acabar com tudo antes mesmo de começarmos me corroía por dentro, eu podia não ter a menor ideia do que iria acontecer, mas estava disposta a arriscar, acho que o amor havia me enchido de coragem, de fato. Você insistia em não ceder e permanecia ausente, então comecei a procurar em outras bocas e corpos aquilo que você me negava, mas não fez diferença porque nenhum deles era como você.
Seus muros foram caindo e nossa amizade restaurada, seria esse o primeiro indício de que o "nós" poderia finalmente acontecer? Para minha alegria sim, você finalmente havia destruído todos os muros que cercavam seu coração e se entregou de corpo e alma a mim. E enquanto minha cabeça repousava em seu peito ouvindo as calmas batidas de seu coração, nossa pequena bolha de amor foi sendo formada, quisera eu viver nela para sempre.
O fim do verão começava a surgir e você teve que fazer uma pequena viagem, antes de voltar de vez para casa, estava certo de que aquele seria o nosso fim, até que meus pais tiveram a brilhante ideia de me mandar ir com você, eles acharam que já era hora de eu sentir novos ventos nos cabelos, era como se eles soubessem que queríamos mais tempo.
Nossa pequena viagem foi curta, mas prazerosa, aproveitamos todos os momentos que podíamos com a companhia um do outro, nos amamos loucamente como se o amanhã jamais fosse chegar, o problema é que ele chegaria mais rápido do que pensávamos, esse pensamento trouxe pesar ao meu coração e lágrimas começaram a surgir em meus olhos e cair pelo meu rosto, você me abraçou e como em uma súplica eu disse "Eu não quero que você vá!" Você me apertou ainda mais contra seu peito e eu coloquei minha cabeça em seu ombro tentando guardar seu cheiro, junto com cada detalhe seu, em minha memória.
No dia seguinte fomos a estação de trem, nos despedimos com um longo abraço, foi quase impossível te deixar ir, você entrou no vagão, o ferroviário fechou sua porta, da janela trocamos um breve olhar que pareceu ter um significado maior do que o que parecia e o trem começou a partir. Enquanto assistia sua partida um filme se passava em minha cabeça, o filme da nossa história, mesmo lutando para contê-las as lágrimas insistam em descer pelo meu rosto, assim que conseguir me controlar liguei para minha mãe pedindo que ela me buscasse, eu realmente não estava em condições de voltar sozinho, precisava de um colo. E enquanto eu voltava completamente arrasado para casa tive consciência de que apenas meu corpo estava voltando, pois meu coração havia sido deixado naquela estação de trem.
Com a dor e a solidão como companhia eu tive a certeza de que o que aconteceu entre nós acontecia poucas vezes na vida, o sentir com aquela intensidade que sentimos era raro; nós tivemos as estrelas você e eu e isso apenas é dado uma vez.
O inverno chegou trazendo notícias suas; céus eu sentia sua falta mais do que queria admitir, você disse que tinha novidades e eu pensei que você estava noivo, eu mal sabia o quão certo estava (Merda! Maldita boca a minha.)
Eu o chamei pelo meu nome como costumávamos fazer, você me chamo pelo seu e disse que se lembrava de tudo. Então, eu entendi, nós jamais nos esqueceríamos daquele verão, ou um do outro, eu jamais te esqueceria porque aquilo não tinha sido um mero amor de verão, você tinha sido meu primeiro amor, portanto estaria marcado em mim para sempre.