Sentei hoje aqui para escrever sobre as milhares de coisas que eu adoro escrever, mas aí me ocorreu o pensamento que eu nunca escrevi sobre você; nunca dediquei nenhum texto á você. Por que? Também não sei! Talvez porque seja difícil falar sobre você ou talvez eu ainda não tenha encontrado as palavras certas.
Falar sobre você não é uma coisa muito fácil, mas deveria ser, não é fácil porque falar sobre você trás lembranças boas e ruins, não é fácil porque a saudade aperta o peito, não é fácil porque o nosso relacionamento não era. Talvez por causa daquela história de que quando conhecemos pessoas muito parecidas com nós mesmas ou as odiamos ou as amamos, ou talvez porque eu não tive tempo de me colocar no seu lugar, de te conhecer melhor.
Quando você me vem a mente eu faço de tudo para lembrar dos bons momentos e afastar os maus, então me concentro em cada passeio que fizemos no centro de São Paulo, em cada Milkybar que você me trazia (ou que íamos comprar), em cada poema seu que eu li ou em cada vez que eu via você escrevendo no computador concentrado. São pequenas coisas, mínimos detalhes, mas que me fazem não esquecer de você; acho que é porque quando perdemos alguém cada célula do nosso corpo se agarra a uma lembrança, a pequenos momentos para não nos esquecermos dela; porque se esquecermos dela será como se nada tivesse acontecido, como se você nem tivesse existido.
É completamente clichê eu dizer isso, mas eu vejo você toda vez que olho pro espelho, não porque eu tenho os seus olhos ou porque eu me pareço fisicamente com você, mas porque a minha personalidade, a minha alma é tão parecida com a sua; não sou só eu que diz isso, a maioria das pessoas que te conheceu e me conhece diz isso; eu tenho o seu jeito sonhador, o seu jeito teimoso, a sua pouca paciência, o seu gênio nervoso, até o jeito como eu seguro o garfo e a faca é igual a você, e é claro também tenho o seu dom da escrita (pena que eu não sei escrever poemas tão bem quanto você, mas só de escrever bem como você já basta).
Assim como você eu escrevo o que eu sinto, escrevo o que já não cabe no peito, provavelmente por isso que esse texto demorou tanto para ser feito; porque existem tantos momentos que eu gostaria de compartilhar com você, tantas coisas que eu queria te dizer, mas que não posso; não só porque você não está mais aqui mas também porque não dá, eu acho que não tenho o direito de te dizer algumas coisa e nem devo; se eu não te conheci em vida, acho que não será após a sua morte que te conhecerei por completo.
Entretanto uma coisa que eu disse e continuo dizendo é que a sua morte me trouxe a mais valiosa lição que eu aprendi nesses 22 anos de vida: a lição que a vida é curta demais para não aproveitar cada momento precioso com aqueles que você ama, é muito curta para não dizer "eu te amo" enquanto ainda podemos, é muito curta para guardar rancor. Eu nunca te agradecerei o suficiente por essa lição, e eu a nunca esquecerei.
Eu poderia continuar esse texto e dizer mais um milhão de coisas que eu já disse, e outras que eu não disse, mas provavelmente é melhor eu terminar ele aqui dizendo que cada palavra eu disse foi sincera, foi de coração, nada foi impulsivo ou da boca pra fora, foi de verdade. Eu realmente lamento por não ter te conhecido realmente; quem sabe em outro lugar, em outro tempo, em outra vida. A Saudades também é verdadeira nunca passa; e não sei se algum dia passará, mas ás vezes ela me faz bem e é isso que importa.
Me desculpe por nunca ter te escrito nada, não espero que esse texto compense todos esses anos, mas eu precisa escrevê-lo. Fique em Paz, Pai! Onde quer que você esteja.